segunda-feira, 29 de junho de 2009

Brasil e memória curta


Acho que muitas pessoas receberam nesses últimos dias um e-mail com o homônimo assunto deste post e com o subtítulo “Trem da Alegria pega filha de Sarney”.

Pois então, mais do que revoltado o fato do nepotismo e falta de caráter (já tão comuns e costumeiros em terras brasilienses), fiquei chocado de como as manchetes se repetem, como os escândalos se repetem, como o brasileiro se repete ao longo da história política do Brasil.

A cada dia vejo que não há nada novo.
A mídia não cria nada, não investiga novos fatos. Na realidade, os fatos são reinventados, com novos nomes e novas formas de atuação. É bem verdade, que no caso do e-mail, o nome não é nada novo. Vinte e três anos depois, o mesmo Sarney continua colocando parentes (sem concurso público) para trabalhar na Casa Legislativa, como se lá fosse a casa dele. Parece que o Senado serve de escritório particular para seus próprios empregados. O pior é ver políticos defendendo a utilização de parentes em cargos de confiança, se o político “não pode confiar nos parentes, não poderá confiar em mais ninguém” (vide matéria).

Não pretendo aqui discutir política, nem as denúncias que aí estão eclodindo a cada dia. O objetivo do blog é outro. Então, vamos a ele.

Como não sabia se o arquivo sobre a matéria do “trem da alegria” era verdadeiro, embora muito interessante e esclarecedora, resolvi checar a informação (dever de todo jornalista, diplomado ou não). Pra minha pouca surpresa, encontrei no Acervo Digital da Veja. E aí chegamos.

Pra quem não sabe, a Veja criou um espaço virtual que disponibiliza a pesquisa de todas as edições já lançadas pela marca. O acervo contempla desde a primeira publicação em 11 de setembro de 1968 (quando tratou do “Grande duelo no mundo comunista”) até a edição da semana passada. Inclusive essa, que consta na edição de 14 de maio de 1986.

Tomara que com esses registros o povo comece a se lembrar mais das coisas...

Acesse: Acervo Digital Veja

Descontando todas as vertentes e posições políticas de Veja, ressalto essa grande iniciativa (que já existe há alguns meses) do grupo Abril em proporcionar acesso livre a todas as publicações da revista (pois até mesmo pra criticar, precisamos conhecer o objeto de crítica).

Considero isso um ato de comunicação pública. Veja transformou seu patrimônio privado em público, social e em fonte de dados sobre a história recente do Brasil.

Então, não perca tempo, acesse, leia, informe-se, pesquise.
Aproveite!

(Esse artigo não recebeu nenhum patrocínio da revista. Ainda! hehe. Foi feito apenas com o intuito de divulgar aos leitores uma boa iniciativa e fonte de informação. E também para que a memória dos brasileiros não seja mais assim tão curta.)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Boa notícia para os diplomados em jornalismo


A Agência Brasil divulgou ontem que 40 senadores já manifestaram apoio a um pedido de apresentação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) prevendo a exigência de diploma de curso superior em Comunicação Social para exercer a atividade de jornalista. Para a apresentação da PEC são necessárias 27 assinaturas.

De acordo com o texto da proposta, o exercício da profissão de jornalista será privativo de portador de diploma de curso superior de Comunicação Social, com habilitação em jornalismo, expedido por curso reconhecido pelo Ministério da Educação. Além disso, acrescenta um parágrafo único, que torna facultativa a exigência do diploma para colaboradores.

Muito boa a iniciativa do senador Antônio Carlos Valadares do PSB de Sergipe, autor da proposta, embora o ministro do STF Gilmar Mendes já tenha declarado que não existe qualquer possibilidade do Congresso Nacional reverter a decisão do Supremo Tribunal Federal.

O ministro parece que não gosta de ser contrariado!
Penso se ele seria melhor ministro ou melhor parlamentar...
“Saia às ruas ministros”, veja se ganha no voto popular!
Agora é torcer para que essa PEC saia dos apoios e vire realidade.
Depois, mobilização da classe e pressão no Congresso em prol do diploma.

Continuando no assunto...

O programa Observatório da Imprensa debateu na última terça-feira (23), na TV Cultura ou TV Brasil, “A polêmica sobre o diploma”. Ouvindo vários lados, a favor e contra, discutiu-se a qualidade do jornalismo feito hoje em nosso país e como será amanhã; a informação e a democracia (que não são sinônimas); o nivelamento abaixo de zero do jornalismo brasileiro (lembrem-se: “jornalista é igual a cozinheiro”); a questão do diploma em outros países (parece que só nós estávamos errados!); e trouxe ainda, o questionamento sobre a liberdade de expressão ser um direito constitucional para além do jornalista.

O programa contou com a presença do jornalista Mário Vitor Santos (diretor da Casa do Saber) e do professor de jornalismo Muniz Sodré (mestre em Sociologia da Informação e Comunicação e doutor em Letras). E em entrevistas gravadas, com participações mais do que especiais dos ministros-legisladores do STF Gilmar Mendes e Marco Aurélio; de Maurício Azêdo (presidente da Associação Brasileira de Imprensa); do jornalista Cai Túlio Costa; do jurista José Paulo Cavalcanti Filho (especialista em Direito da Comunicação); e do jornalista Sílio Boccanera. Todos comandados, obviamente, pelo monstro sagrado da comunicação brasileira, o professor e jornalista Alberto Dines.

Leia a resenha do programa:
A polêmica do fim do diploma – Observatório da Imprensa


Também levando em conta a diversidade de opinião e respeitando às idéias contrárias, divulgo aqui um interessante artigo à favor da decisão do Supremo e contra meus ideais universitários.

Leia:
Diploma em Jornalismo: uma exigência que interessa a quem?

terça-feira, 23 de junho de 2009

Lobão discute o fim do diploma para jornalistas na MTV


Com a pergunta-tema: “Jornalista precisa de diploma?” - o músico e apresentador Lobão promove hoje, terça-feira, às 22h30, no MTV Debate, uma discussão sobre a polêmica decisão do Supremo Tribunal Federal pelo fim da exigência do diploma para a profissão de jornalista.

Protestos contra o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalista marcam segunda-feira no Rio e SP

Com bandeiras, faixas e narizes de palhaços, estudantes e jornalistas protestaram ontem (22/06), no centro do Rio e na Avenida Paulista, contra a decisão do Supremo Tribunal Federal em derrubar a exigência da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo.

Uma das faixas continha os dizeres: “Só diploma de jornalista garante qualidade da informação. É melhor para a sociedade”.

Veja matérias relacionadas:

Estudantes e jornalistas protestam no Rio

Estudantes fazem manifestação em São Paulo

Ainda sobre arquivos secretos e ditadura

Aproveitando o gancho da minha última matéria, divulgo uma reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo” deste domingo, 21 de junho, na qual revela detalhes do arquivo pessoal do militar Sebastião Curió Rodrigues de Moura, mais conhecido como major Curió, sobre a famigerada Guerrilha do Araguaia.

Os papéis e as declarações de Curió indicam que 41 integrantes da Guerrilha foram executados pelas forças militares do governo, no norte do Estado de Tocantins, entre os anos de 1972 e 1975.

O texto traz, inclusive, a lista dos nomes das 41 pessoas assassinadas pelo exército brasileiro (só para assinantes do Estadão). De acordo com Curió, dos 67 integrantes do movimento, 41 foram presos, amarrados e executados quando não ofereciam risco às tropas. Somente os adolescentes foram poupados.

Pra quem gosta de informação pública, vale conferir a matéria:


Curió abre arquivo e revela que Exército executou 41 no Araguaia


E o Senado enquanto isso...

Enquanto Senado esconde seus atos, Governo cria site com arquivos da ditadura

O atual momento no qual a mídia discute sobre atos e fatos secretos dentro do Senado Federal me fez lembrar de um interessante e importante site desenvolvido pelo Governo brasileiro recentemente, é o “Memórias Reveladas”.

O Governo Federal vem desde 2005 criando um banco de dados com informações sobre o período de ditadura (entre 1964 e 1985) para ser disponibilizado à população brasileira. Em 21 de dezembro daquele ano, documentos produzidos e recebidos pelos extintos Conselho de Segurança Nacional - CSN, Comissão Geral de Investigações - CGI e Serviço Nacional de Informações – SNI foram oficialmente repassados ao Arquivo Nacional
.

Assim, no início do mês de maio deste ano, um portal foi lançado, permitindo acesso a mapas, fotografias, folhetos, desenhos, entre outros, todo o material que se refere aos pesados anos de governo militar - quando a censura, tortura e mortes tomavam conta do país - e que estão em poder do Governo.

Visite:
www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br

Como a próprio site informa: “trata-se de fazer valer o direito à verdade e à memória”.

Na carta de apresentação redigida pela ministra Dilma Rousseff, fica claro o objetivo de proporcionar a reafirmação da democracia na política brasileira, da história e da cultura do país.

“Estamos abrindo as cortinas do passado, criando as condições para aprimorarmos a democratização do Estado e da sociedade. Possibilitando o acesso às informações sobre os fatos políticos do país reencontramos nossa história, formamos nossa identidade e damos mais um passo para construir a nação que sonhamos: democrática, plural, mais justa e livre”, finalizou a ministra.

O site se resume em um aforismo, escrito nos cantos inferiores de todas as suas páginas: “Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”.

Não só à ditadura!!
Essa frase faz bem aos ouvidos com tantos escândalos e absurdos inimagináveis dentro do Senado Federal.

Um órgão que de nada secreto poderia ter, utiliza-se de subterfúgios para publicar atos, cuja obrigatoriedade é inerente à função da respeitada Casa. Afinal, não é a Casa do Povo, como a Câmara; mas também foi eleita por ele.

Se observarmos a nossa Constituição Federal de 88, no inciso XXXIII do Artigo 5º, todas as informações devem ser prestadas no prazo da lei, “sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”.

Ao meu ver, contratação de parentes, aumento de salários e criação de cargos mais do que desnecessários estão longe de ser atos que digam respeito à segurança nacional!

Afirmo que a única coisa que deve continuar secreta mesmo é o voto!
Mas para exercê-lo de forma digna, devemos atentar para nossa memória, revelar nossa memória, assim como pretende o site supracitado. Quem sabe assim o apotegma faz sentido, melhor evitar do que tentar esquecer!!

Então: “Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Jornalista é igual a cozinheiro

Pra quem é jornalista, só lamento!!

O STF acabou de derrubar a necessidade de diploma para o exercício do jornalismo.
Pior do que ter 4 anos de estudo em vão, é ser comparado a um cozinheiro, como fez o ministro Gilmar Mendes. O site do uol colocou uma matéria sobre o assunto antes do ministro Celso de Mello proferir seu voto, mas adianto que ele ainda fez pior, comparou a profissão de jornalista à de manicure, pedicure e cabelereiro!!

Só mesmo o ministro Marco Aurélio (mais uma vez voto vencido) expressou apoio aos jornalistas diplomados e ao milhares de estudantes matriculados em cursos de jornalismo nas universidades brasileiras.

O mais interessante é que a Corte alegou que os danos causados a terceiros por jornalistas não são inerentes à profissão de jornalista e não poderiam ser evitados com um diploma. Ora, quantos juizes (Nicolau dos Santos), médicos (Jorge Farah), engenheiros (Sérgio Naia), advogados (tenho uns mil vagabundos na cabeça) causaram e causam danos à sociedade mesmo sendo diplomados? O diploma evitou algum desvio moral e ético dessas pessoas?

Como o exercício do jornalismo não causa danos à sociedade?
Ninguém se lembra do caso da Escola Base? O maior caso de erro jornalístico do Brasil. Vidas foram destruídas. A família dona da escola, além de ter perdido todos os seus bens, não conseguiu arranjar sequer um emprego até hoje.
Será que a falha cometida não por um, mas vários jornalistas, na época, foi devida a uma má formação profissional ou por desvio ético e moral?

Ao meu ver, o problema alegado não se refere à formação universitária, mas sim a uma falha de construção moral e ética, a qual cada indivíduo deve ser individualmente responsável, e que não se constroi em muros de faculdades, mas sim na educação do dia a dia.

Outra alegação pífia é a de que qualquer um pode ser jornalista, de que é melhor pra sociedade ver um texto informativo sobre saúde feito diretamente por um médico do que por intermédio de um jornalista. Concordo que pra escrever, basta não ser analfabeto, mas entendo ainda que certas regras e técnicas são necessárias à nossa profissão. Senão, eu mesmo teria feito outro curso. (Ah se não fossem os bons anos de UFRN...)

Mas o que nenhum daqueles senhores se lembrou foi que até poucos anos atrás, qualquer um poderia ser advogado. Antes não era necessária uma formação jurídica para defender um cidadão perante um juízo, e a justiça andava do mesmo jeito, talvez até mais ágil. Mas aqui entra outra história.

Infelizmente, tenho que concordar que advogados são bem mais espertos do que jornalistas. Como disse um professor meu, criaram "a maior organização criminosa do Brasil", a OAB. É a única organização citada na Constituição. Tem prova para ingressar na categoria, e não muito fácil, diga-se de passagem. Não é qualquer um que consegue o registro. Há, no mínimo, uma avaliação intelectual.
Sem contar que a OAB está presente em tudo o que se refere à advocacia, legislação e judiciário. Ela tem poder! Poder de cobrar, de fiscalizar, de particiar e, principalmente, de punir seus sócios sem caráter. A OAB funciona, e muito bem.

E pro jornalista tem o quê?

Jornalista? Jornalista se julga esperto por não pagar a mensalidade do sindicato de representação da classe. Jornalista é contra a criação de um conselho de fiscalização da profissão. Jornalista é contra a regulamentação da profissão. Jornalista quer jornada de 5 horas diárias pra poder trabalhar em dois lugares diferentes, mesmo que seja defendendo opiniões diferentes também. Jornalista acha que tem opinião própria e que não escreve o que o dono da empresa jornalística quer. Jornalista não gosta de representação, de união. Acha que ganha pouco (e verdade, ganha muito pouco!), mas não tem a capacidade de se fortalecer através de representação coletiva.

Então, pro jornalista (ocupação na qual me encontro), as batatas, o nabo e outras leguminosas!
Aceite a condição de ser mais um, com diploma ou sem diploma.

Pior agora pra quem trabalha ou pretende trabalhar no setor privado.
Reserva de mercado zero!
Salários ainda mais baixos.
Carga horária ainda mais alta, mas hora extra também zero!

Agora, além de nós, dos jornalistas desempregados e dos estudantes de jornalismo (que como estagiários trabalham igual ou até mais), qualquer um pode fazer o que fazemos, lembrem-se disso!

Mas ainda há uma saída.
Acredito fielmente na qualificação como o melhor caminho.
Com diploma ou não, seja bom no que faz, dessa forma sempre haverá mercado pra quem demonstrar maior capacidade. E isso só se consegue com esforço, estudo e dedicação.

Agora, vou fritar um ovo pra ver se o faço melhor do que uma matéria.
Talvez vire um chefe de cozinha. Como disse Gilmar Mendes, também não preciso de diploma pra isso!

Marcus Bennett.

Matérias do Uol:


Gilmar Mendes compara um jornalista a um cozinheiro


STF decide que diploma de jornalismo não é obrigatório para o exercício da profissão
 
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